O que te peço, Senhor, é a graça de ser.
Não te peço mapas, peço-te caminhos: o gosto dos caminhos recomeçados, com suas surpresas, suas mudanças, sua beleza.
Não te peço coisas para segurar, mas que as minhas mãos vazias se entusiasmem na construção da vida.
Não te peço que pares o tempo na minha imagem predileta, mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo como uma nova oportunidade.
Afasta de mim as palavras que servem apenas para evocar cansaços, desânimos e distâncias.
Que eu não pense saber já tudo acerca mim e dos outros.
Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho, sei que posso ser, ser simplesmente.
É isso que te peço, Senhor: a graça de ser de novo.
José Tolentino de Mendonça
Um Deus que dança (2016)